domingo, 5 de outubro de 2008

Vazio

Hoje lembrei o quanto já fui feliz. Lembro que eu tinha alguns amigos no colégio. Lembro que eu e o Dudu quebramos o lustre da vovó brincando de jogar “bóia”. Lembro que me pendurava nas cortinas brincando de Tarzan e que um dia elas se despedaçaram. Lembro que fui atropelada brincando de pique-esconde na garagem. Que fui brincar de barco no mar, subindo numa tábua e fui parar lá no fundo... Que brincava de pular elástico na rua. Que aprendi a andar de bicicleta fugindo de uma barata. Que brincava de fazer comida com as folhas que eu achava na praia, lá em Angra. Que tinha medo dos E.T.s e dos espíritos das histórias que contavam em Maricá. Que fui apaixonada pelo Rodrigo e pelo Júnior e escrevia sobre eles no meu diário. Que tinha uma vizinha no prédio que vendia sacolé e eu sempre escolhia o de morango. Que tive tantas melhores amigas: Ju, Fabiana, Gab, Karine... Que meu pai comprava “guarda-chuvinhas” de chocolate para mim sempre que ia à padaria. Que eu adorava comer bala de caramelo no cinema. Que estudei num colégio público que eu amava, depois num particular que eu odiava e depois num de normalistas. Que fiz balé quinhentos anos e joguei futebol apenas por alguns. Que fiz aulas práticas de teatro no colégio e teóricas na faculdade. Que a minha mãe tinha um Chevette Marajó azul (placa WF 5937) e que foi o primeiro carro que eu dirigi. Que eu fugi para dar o meu primeiro beijo. Lembro que eu sonhava tanto e que ainda ria bastante nessa época. Lembro que eu achava que a minha vida inteira teria momentos felizes como esses. Engraçado que eu imaginava que tudo hoje fosse bem diferente do que é. Nem imaginava que o Lula fosse eleito e reeleito! Que o dólar não valeria mais tanto assim... Não imaginava que as conseqüências das merdas de agora fossem bem diferentes do que quebrar um lustre e que existem coisas que doem muito mais do que ser arrastada por um carro. Enquanto isso a vida vai me levando, como fez o mar quando eu subi na tábua para brincar de velejar... a diferença é que agora não tem nenhum irmão mais velho pra me tirar de lá... pra me tirar daqui! Nem tenho mais histórias para anotar nos diários. Vazio...