sábado, 12 de maio de 2007

Eu te amo

Depois de quase 25 anos ele me disse "eu te amo". Sim, talvez ele já tenha me dito isso antes. Tentei lembrar de todas as maneiras se isso já havia acontecido e quando, mas só consegui lembrar da época que ele, antes de ir para o trabalho, tocava a campainha da minha casa para me levar para comprar mini guarda-chuvas de chocolate na padaria da esquina. Tentei mergulhar no passado para lembrar e só consegui pensar nas vezes que ficava com medo de algum cachorro da rua e ele dizia que se ele me mordesse, o morderia também. De tentar de todas as maneiras me fazer gostar de frutos do mar. Lembrei de como eu ficava feliz quando eu conseguia achá-lo nas festinhas do colégio e de quando ele aparecia no meu aniversário, mesmo depois de eu já ter perdido as esperanças. Dos bilhetinhos que chegavam dentro de envelopes. Da mesma música que ele cantava o tempo todo. De quando a gente dormia na cama de cimento, em cima de toalhas. Das piadas que ele sempre sabia contar. Das adegas que ele sempre me levava. De quando ele vinha chegando para me buscar e eu já ouvia a voz dele de longe, cumprimentando todo mundo na rua... e como eu admirava aquilo! Das histórias que ele contava... Da sinuca e do doce de boteco...
Não consegui lembrar se alguma vez já tinha ouvido aquelas palavras ditas na voz dele, mas cheguei à conclusão de que nunca dissemos isso um para o outro, porque nunca precisou ser dito.